Um grupo de quatro pessoas sorridentes, descontraídas e com linguagem corporal de integração. Três deles, os mais jovens, em pé abraçados e postados por trás da líder senior que, sentada, é gentilmente tocada no ombro por um deles, fazendo a conexão física de todos numa espécie de fio terra intergeracional.
Foi a leitura que fiz de uma foto recebida meia hora após o encerramento de uma longa reunião, durante a qual tratei com um grupo de clientes a compreensão dos porquês de formalizar um contrato incluindo em seu contexto a relação interpessoal, o porquê de ser identificado e formalizado, como parte relevante do contrato formal, o contrato psicológico.
O encontro foi precedido de longos e “invasivos” questionários nos quais os integrantes do grupo se viram obrigados a “desnudar-se” em questões tais como, “quais são seus medos”, ou “quais são suas características negativas”. Todos foram unânimes ao afirmar o quão difícil é avaliar a si mesmo, fazer a tal autocrítica que, aliás, parece estar fora de moda em um mundo cada vez mais narcisista.
Abrir-se para o outro, com seus aspectos positivos e negativos e entregar-se ao processo, não é fácil, exige coragem, como afirmou uma de minhas primeiras clientes relacionais.
Mas, afinal, coragem é condição para dar início a qualquer relacionamento. Enfrentar o novo e enfrentar a si mesmo, simultaneamente, é um continuum de coragem a que todos nós somos submetidos. E esta reflexão escrita serve como uma espécie de autocrítica, de alerta para que meu entusiasmo ao receber a foto não me faça esquecer de observar o outro, respeitar suas características e necessidades, calçar os seus sapatos.
A humildade e a autocrítica deve começar em mim, quando provoco no outro uma reflexão muitas vezes forçada, embora necessária para a construção de uma relação. O cuidado, a delicadeza, a confidencialidade, o acolhimento, são elementos sem os quais a minha neutralidade pode ser abalada e, com isso, todo o processo de construção relacional.
Vibrei com a foto, é claro, me envaideci, chegando a mandar uma mensagem para um outro colega, advogado colaborativo como eu, para compartilhar “o meu sucesso”.
Até que “realizei” que o sucesso não era meu, já que a relação e o contrato tampouco me pertencem, senão ao grupo de clientes. Eu sou apenas a facilitadora de alguns mecanismos que estão lá, por vezes escondidos, mas que pertencem ao grupo e ao seu relacionamento e, como consequência, vão compor o símbolo da relação e que será construído em conjunto: o contrato.
Construir um contrato relacional sustentável requer esta reflexão de quem facilita, como meio de evitar qualquer imposição de vontade que contamine a autenticidade de uma relação que é única.
- Olha a alegria! Gostamos muito! – foi a legenda que veio na sequência da foto.
Bem, mas a alegria, esta sim, posso dizer que também é minha.
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